COB corta verbas para a Confederação Brasileira de Handebol às vésperas do Mundial do Egito/2021
- Cláudio Moura
- 28 de out. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 20 de nov. de 2020

Os cartolas da CBHb ajudam com os seus egos inflados a destruir tudo o que os atletas e as comissões técnicas vêm desenvolvendo com crescente qualidade competitiva, nas quadras, há mais de uma década, em especial na seleções masculina e feminina. O Brasil tem hoje aproximadamente 100 atletas jogando no exterior: Espanha, Portugal, Franca, Turquia, Romênia, Hungria, Rússia e Polônia são alguns dos países europeus em que os brasileiros (as) levam a qualidade do handebol nacional mundo afora.
Quando a modalidade sai das quadras e vai para a esfera política, o pesadelo se instala com força e não cessa. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) anunciou o corte de verbas para o handebol, num momento em que a seleção masculina adulta deveria estar se preparando para o Mundial do Egito, que será disputado em janeiro de 2021. O Brasil não reúne a seleção desde janeiro de 2020, quando o país sediou, em Maringá/PR, o primeiro campeonato Sul/Centro-Americano, com o Brasil conquistando uma das três vagas direita ao mundial ao ficar com o vice campeonato.
O COB, acertadamente, se nega a repassar recursos para a maior entidade do handebol brasileiro, enquanto a guerra política entre Manoel Luiz Oliveira, presidente reeleito em 2017, e afastado por denúncias de corrupção, e Ricardo Souza, o vice, também afastado da função por dois anos (ainda responde pela confederação via mandado judicial), devido a denúncia de assédio moral e sexual a uma funcionaria da CBHb, nos Jogos Pan-Americanos de Lima/Peru/2019.
Portanto, em resumo, enquanto não houver uma nova eleição na CBHb, o handebol brasileiro não receberá verbas do COB, praticamente inviabilizando o funcionamento da entidade, dos seus campeonatos domésticos e, principalmente, dos cronogramas de atividades para as seleções, já que a CBHb está sem patrocínios públicos e privados há mais de dois anos. O handebol brasileiro, o dos cartolas, agoniza, mas esperamos que não morra (pelos atletas, pelos aficcionados e pela numerosa família da modalidade), parafraseando o sambista Nélson Sargento no sua música mais famosa, "Agoniza, mas não morre".

A seguir, uma excelente matéria produzida pelo repórter do Blog "Olhar Olímpico, Demétrio Vecchioli, que conta com detalhes a interminável crise de corrupção e política na CBHb, e que vem prejudicando o handebol brasileiro, justamente no melhor momento da modalidade na história do jogo no país...

Demétrio Vecchioli, autor da matéria abaixo
O Comitê Olímpico do Brasil (COB) resolveu suspender todo e qualquer diálogo com a Confederação Brasileira de Handebol (CBHb) enquanto esta for presidida por Ricardo Souza. O dirigente, que foi eleito para ser vice-presidente, está suspenso do movimento olímpico por dois anos, por assédio sexual e moral, depois de levar uma funcionária para os Jogos Pan-Americanos e insistir que ela dormisse com ele.
Essa funcionária continua na confederação e e agora é de novo subordinada a ele.
Ricardinho, como é conhecido o cartola de Alagoas, era presidente da CBHb na ocasião. O presidente eleito, Manoel Luiz Oliveira, estava afastado pela Justiça, por diversas irregularidades na sua gestão. Ele chegou a reassumir o cargo no início do ano, mas foi novamente afastado por decisão judicial, dessa vez do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5), em julgamento ocorrido em setembro.
Quando o afastamento de Manoel foi decidido pela Justiça, Ricardinho já estava suspenso do movimento olímpico. Mas ele recorreu também à Justiça para poder assumir a presidência da confederação, conseguindo uma liminar. De fato, a suspensão aplicada pelo Conselho de Ética do COB não tem efeito sobre a CBHb. Mas se a CBHb opta por ter um presidente suspenso do movimento olímpico, ela corta relações com o movimento olímpico.

Manoel Luiz e Ricardo Souza, pivôs da crise na CBHb
Foi o que aconteceu. "Enquanto a CBHb não eleger um novo representante legal, a comunicação entre o COB e a entidade está interrompida, assim como a avaliação dos projetos desenvolvidos em conjunto", informou o COB, em nota, ao Olhar Olímpico. A decisão é, também, prática. Só os presidentes de confederação têm acesso ao sistema de comunicação com o COB em que apresentam projetos, prestações de conta, etc. Ricardinho, suspenso, não tem acesso a esse sistema. Fora dele, não consegue pedir ou receber dinheiro.
E isso já está impactando diretamente na modalidade. O COB havia anunciado que a seleção masculina treinaria em Portugal, na Missão Europa, a partir do dia 30, próxima sexta-feira. Mas esse treinamento foi cancelado. "A participação da equipe masculina de handebol na Missão Europa foi cancelada. Todas as demais ações da CBHb junto ao COB estão suspensas", confirmou o comitê.

Sabendo que não teria dinheiro do COB para fazer o treinamento, a CBHb tem dito que desistiu da atividade por causa da segunda onda de Covid-19 na Europa, ainda que as competições no continente continuem normalmente e o trânsito entre os países do bloco, onde jogam os brasileiros da seleção, esteja liberado.
Quando Ricardinho assumiu a confederação pela segunda vez, já suspenso por assédio sexual e moral, ele demitiu o técnico Washington Nunes, que havia sido contratado pelo seu antecessor e nem havia chegado a dar treinamento, e contratou Marcus "Tatá", de Taubaté, para ser o novo técnico da seleção masculina. Mas, como a comunicação CBHb/COB está suspensa, o comitê sequer foi informado dessa mudança.

Thiagus Petrus, capitão da seleção brasileira
Treinar agora seria fundamental para a seleção. Como no futebol, o handebol também tem datas para as equipes nacionais treinarem e jogarem. Com a suspensão dos treinamentos na Europa, a equipe do Brasil vai ficar sem se reunir na última janela antes do Campeonato Mundial, marcado para janeiro, e que por sua vez será preparatório para o Pré-Olímpico. Capitão da equipe, Thiagus Petrus, do Barcelona, já criticou publicamente a demissão de Washington e disse não reconhecer Ricardinho como presidente.
Ao cortar comunicação com a CBHb, porém, o COB também vai afetar financeiramente a modalidade. Não serão repassados os valores relativos ao mês de outubro, que deveriam ser transferidos na próxima sexta-feira. Com isso, em tese, já que não tem patrocinadores privados, a CBHb não terá recursos para pagar impostos e salários. O mesmo deve acontecer depois em novembro, já que Ricardinho só deve deixar o cargo em dezembro, quando estão previstas eleições.
