Acácio Marques Moreira, uma das legendas do handebol brasileiro
- Cláudio Moura
- 29 de set. de 2016
- 7 min de leitura

Acácio é uma das grandes figuras da história do handebol brasileiro. Jogou por várias equipes, dentre elas a UFSM/RS e o Chapecó/SC, além de mais de 15 anos pela seleção brasileira, nas décadas de 1970 e 1980.
Ele tem 52 anos, é natural de João Pessoa/PB, e atualmente é presidente do Auto Esporte, clube de futebol de João Pessoa. Acácio é um canhoto, de 1 metro e 92 centímetros, que jogava como lateral direito.
A revista "Placar", em uma reportagem na década de 1980, estampava: "Acácio, o Pelé do nosso handebol".

A seguir, o site "Handebol para Todos" reproduz uma entrevista feita com Acácio pela revista de "Esportes em Mãos", em 2015.
Em 1964 nascia na cidade de João Pessoa na Paraíba um dos maiores e melhores atletas canhotos de handebol da história do país, Acácio Marques Moreira
O PELÉ DO HANDEBOL
Em 1964 nascia na cidade de João Pessoa na Paraíba um dos maiores e melhores atletas canhotos de handebol da história do país, Acácio Marques Moreira. Iniciado no final da década de 70 nas aulas de educação física da escola João XXIII, em João Pessoa, quando o handebol estava se difundindo pelo país, Acácio, o Pelé do handebol, como foi apontado pela revista Placar na década de 80, chegou a praticar judô antes de iniciar no handebol.
Aos 17 anos foi convocado à seleção brasileira juvenil para disputar um torneio anual na cidade de Teramo, na Itália, competição que existe há 37 anos. Hoje, Acácio joga handebol por lazer, além de futebol, voleibol e anda a cavalo no Haras. Tem como hábito de leitura a bíblia e gosta de música popular brasileira.
A década romântica do handebol brasileiro, como costuma ser chamado os anos 80, foi marcada pelo aparecimento de vários craques e pela formação de estruturas que deram suporte ao crescimento da modalidade no país.
A Esporte Em Mãos entrevistou Acácio, um dos grandes ídolos da época. Sempre muito solícito o ex-atleta e hoje economista gentilmente respondeu às perguntas da Revista com muito prazer e cordialidade.
EM – QUANDO E POR QUE COMEÇOU A JOGAR HANDEBOL? COM QUEM INICIOU? Acácio – Nasci em João Pessoa, mas logo no segundo dia a minha família se mudou para a cidade de Nova Cruz no Rio Grande do Norte, pois era lá onde minha família possuía residência, lá vivi parte da minha infância e adolescência, onde formei também grandes laços de amizades, além de parte de minha família residir nessa cidade.
Passados alguns anos mudei para João Pessoa com toda minha família onde passamos a morar. Fui estudar no colégio João XXIII, onde recebi um convite para participar da primeira equipe de judô do colégio, em seguida o professor Lula Cabral que era técnico de judô e também de handebol resolveu formar uma equipe de handebol para os jogos escolares.
Passei a gostar mais ainda do handebol, quando visitava o Clube Astrea e via grandes jogos, pude ver jogar lá os jogadores Maurição, Chico Massinha, Izaque, Biu Galinha, José Hugo, Ricardo Brindeiro, Boró, União, Gim Cantizane, Denílson dentro outros grandes nomes.
Passei a me dedicar ao máximo e logo em seguida fui para o colégio Pio XII com os técnicos Denílson e Zé Hugo foi quando comecei a me aprofundar nas técnicas do handebol. Logo em seguida passei a estudar no colégio Ipep onde para mim reputo como o maior de todos os tempos, foi onde ganhei vários títulos escolares, campeonatos paraibanos sempre com a direção do professor Izaque.
EM – APÓS A IDADE ESCOLAR O QUE FEZ? COMO FOI JOGAR EM SANTA MARIA, NO RIO GRANDE DO SUL? Em 1980 fui convocado para minha primeira seleção paraibana com a direção do professor Elias Alvim, onde para mim, depois da geração de Izaque, Maurição e outros, foi a geração de ouro do handebol paraibano, que tinha atletas como Botto, Fabrício, Alexandre Bananinha, Mago Eder, Antonio Néri, Maurício, Cláudio Índio, Guga, Isaias, Rômulo, Fabio Ribeiro, Alexandre Miranda, Cezinha, Pingüim, Alzir, Ricardo César, Guilherme etc., fomos jogar em Curitiba e voltamos em sexto lugar, em seguida no ano de 1981 fomos a Brasília onde fizemos grandes partidas e fui convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira Juvenil.
Para esta seleção juvenil foram convocados 40 atletas, mas apenas 15 iriam para a cidade dde Teramo na Itália. Consegui me firmar no grupo e conquistei o meu primeiro grande objetivo e fui à Itália. Ao voltar alguns meses depois fui para um campeonato adulto na cidade de Fortaleza no Ceará, aí tivemos como técnico Tavinho Santos um grande amigo que conheci no handebol.
Lá em Fortaleza conheci o treinador Celso Giacomini que era treinador da Seleção do Rio Grande do Sul, foi quando recebi um convite para morar na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul, fiquei bastante emocionado, pois sabia que lá se jogava um grande handebol. Em seguida com muita saudade dos meus pais, minha família e das minhas cidades do coração, João Pessoa e Nova Cruz, parti para Santa Maria com apenas 17 anos. Ao chegar me deparei com uma cidade muito fria, mais fui muito bem recebido pelos amigos do time.
Existem pessoas naquela cidade que nunca deixaram minha memória como Antonio Schmitz, Alexandre Schneider, Osório Portela, Joaquim Pizzuti, Cidão, Adney, Ronol, Castel, dentre outros, esses foram muito importantes na minha estadia ali, sem falar no Celso, que além de um grande treinador teve um papel de verdadeiro pai para mim, pois, eu era o único estrangeiro do time.
Lá em Santa Maria montamos um time vencedor ganhamos tudo o que disputamos: campeonato gaúcho, campeonato brasileiro, campeonato sul americano, etc., e tínhamos grandes equipes rivais como Maringá, Sírio Paulista, Banespa, mas conseguimos vencer todos.
No ano seguinte veio morar em Santa Maria, para minha alegria, Cláudio Índio, meu conterrâneo, onde com o passar do tempo nos tornaríamos verdadeiros irmãos, só que no ano seguinte nosso time passou por uma grande dificuldade financeira, foi quando decidi dar parte do meu patrocínio para Cláudio e retornar para João Pessoa, mas depois de alguns meses fui informado através do Celso que o Presidente da Confederação, José Maria Teixeira, queria falar comigo. Liguei pra ele e recebi uma das maiores notícias que qualquer atleta pode ouvir, ele disse que cobriria 70% do meu patrocínio para eu não voltar e os outros 30% meu saudoso irmão, Moreira bancou, então resolvi ficar em Santa Maria.
EM – COMO SURGIU A EQUIPE DA SADIA, NO HANDEBOL? Um ano depois fomos convidados para formar uma equipe de handebol na cidade de Chapecó em Santa Catarina com patrocínio da Sadia em parceria com a prefeitura local. Formamos uma equipe de alto nível naquela cidade não só uma equipe, mas uma família.
Levamos a base de nosso time de Santa Maria e contrataram atletas de alto nível como Marcelo Coruja, Tião, Palito, Serjão, Jabá e SB. Marcamos uma grande fase no handebol brasileiro e sul-americano, passamos quatro anos sem perder para ninguém no Brasil e fizemos à marca de 298 jogos invictos, foi quando Chapecó ficou conhecida nacionalmente no handebol.
Anos depois o Governo Federal retirou a totalidade do incentivo fiscal para o esporte e a Sadia resolveu acabar com todas as suas modalidades. Alguns atletas ainda ficaram em Chapecó, como Cláudio, SB, Altamir regando a semente que ali foi plantada. Eu, depois de tantas conquistas e 10 anos de seleção Brasileira resolvi voltar com a minha esposa esperando minha primeira filha para minha grande João Pessoa. Fui trabalhar com meu irmão e minha cunhada.
EM – O QUE FEZ QUANDO RETORNOU PARA JOÃO PESSOA? Fui trabalhar com meu irmão e minha cunhada onde tivemos tempos de boa convivência, só que longe das quadras é outra realidade não adiantava muito ter sido apontado pela revista Placar como o Pelé do handebol, pois o esporte quando não possui massificação na mídia e as pessoas não veem com constância é como um farol apagado que não brilha, você só se destaca no seu meio.
EM – SAUDADE DA ÉPOCA DE ATLETA? O QUE FAZ HOJE? Uma coisa que faria novamente se pudesse voltar ao tempo seria jogar no time da Sadia ao lado de SB, Joaquim, Cláudio, Serjão, Jabá e ter Celso como técnico novamente, e também casar de novo com a mesma mulher. Hoje curto as novas gerações. Aqui em João Pessoa no handebol, bato bola com a turma do Master todo final de semana. Fora handebol, jogo vôlei, futebol e ando a cavalo no Haras.
EM – QUAL O SEU MAIOR ORGULHO E MAIOR TRISTEZA NO HANDEBOL? Um dos meus maiores orgulhos nos últimos anos foi ter sido homenageado no jogo Brasil e Cuba na minha linda e eterna Nova Cruz; minha belíssima família formada pela minha esposa Maria Cristina, com quem sou casado há 24 anos, três lindos filhos, Camila com 20 anos, João com 17 e Acácio com 15 e esse último joga handebol. Minha maior tristeza sem duvida foi a perda do meu irmão Cláudio Brito com seus atletas – Claudio Brito, três atletas e o motorista da equipe de Chapecó sofreram um acidente fatal quando se dirigiam à cidade de Maringá para disputar o campeonato brasileiro Junior na madrugada do dia 17 de maio de 2005.
EM – O QUE O HANDEBOL SIGNIFICA PRA VOCÊ? O handebol para mim significa parte da minha vida, pois fico muito triste e às vezes até decepcionado quando vejo que o handebol continua capengando em coisas básicas como falta de apoio. Por exemplo, a falta de passagens e estruturas para os atletas treinarem – não adianta apenas trazer técnicos espanhóis para as seleções principais, pois na verdade o que precisamos era dar uma levantada no handebol na mídia nacional e como temos 27 Estados juntarem proporcionalmente 40 ou 50 treinadores previamente selecionados e mandar esses técnicos para fazer cursos de meses na Europa e vim difundir o esporte no seu estado, com uma grande supervisão nacional da Confederação.
Não conseguimos enxergar nenhum ex-atleta envolvido na Confederação, no Ministério dos Esportes ou no COB (Comitê Olímpico Brasileiro), pois ao contrário dos outros esportes como vôlei, basquete, judô, atletismo, onde os ex-atletas participam e se envolvem nesses movimentos, não aguentamos mais ver as equipes fazendo cotas em sinais de trânsito ou mendigando passagem a algum político ou até mesmo quando há uma convocação de um atleta e a dois dias para a apresentação o mesmo ter que comprar a passagem do seu bolso (patrocínio), chegou a hora de abrir um handebol para todos, onde possamos ter ídolos, para as crianças terem referência no esporte, para as empresas sentirem vontade de patrocinar e aí sim poder construir um verdadeiro handebol.
Tivemos uma boa oportunidade com o handebol de praia (fomos campeões mundiais no masculino e no feminino), mas parece que a politicagem continua também nesse esporte, supervisores sendo afastados sem explicação, material limitado e assim no lugar de crescer só regride. Esta critica não é pessoal a ninguém é apenas uma forma que eu vejo as coisas acontecerem.
EM – ALGUMA DICA PARA MEHORAR A SITUAÇÃO DO HANDEBOL NO PAÍS? Tanto eu como outros grandes atletas do país, talvez tivessem muita coisa a acrescentar, mas infelizmente sempre fomos taxados de rebeldes, o que é uma pena, mas ainda continuo a acreditar que o nosso handebol possa chegar ao lugar que ele merece, não apenas maquiado com algumas colocações em campeonatos, mas um esporte onde os atletas possam prosperar tanto financeiramente quanto como verdadeiros atletas.
